quinta-feira, dezembro 14, 2006

Silêncio

A música é o bálsamo da alma. O teatro dos sentimentos.
Invade-me o corpo, liberta-me toda esta intensa mágoa dos dias que correm e se esquecem de mim... Imprime os meus dedos nos meus ombros à força de me abraçar, de me embalar a mim mesmo.
Anathema toca uma e outra vez, dezenas, centenas, milhares de vezes até sentir que as notas do piano se me cravam na pele.

Não quero parar.

Quero que esta intensa dor se purgue do corpo, se destile pelos olhos, me morra nas mãos.

Libertem-me deste destino que é doer-me toda a alma, todo o corpo e não saber de onde me nasce esta torrente de espasmos...

Matem-me!!! Matem este eu que sofre e que se abandona a si mesmo nas ruas imundas e cheias de nada.

"Morrias" comigo agora? Abraçada a este espectro aterrorizado com a hipótese de viver anos e anos presa aos limites desta realidade, desta dimensão, deste tempo, deste infinito MAS, deste eterno PORQUÊ...

Abraçavas-me a alma e atiravas-te na noite, a "morrer" no lago, a "morrer"... A "MORRER"... a sentir a boca, os ouvidos, os olhos, os nossos amanhãs todos hipotecados nesse momento de vida?
A vida só é vida no último segundo. Nesse espirar da corrente de ENFINS, de LIMITES, de SEI LÁS, de NÃO SEI... e eu não sei, não sei porque quero tanto agarrar-te e atirar-me ao lago.

MINTO... SEI...

Meu amor... meu amor... não olhes dentro de mim, não vejas a face mais ímpia da insatisfação, não me queiras...

Foge. Foge das minhas constantes alterações de humor, corre e refugia-te porque eu vou-te rasgar, vou-te consumir nos meus desejos e paixões.

Eu tento. Tento ser bom, tento ser certo, tento ser direito, tento ser fascinante, tento ser válido, tento ser TEU mas só sou EU, tão só TEU, apenas EU... incerto, magoado, conspurcado, tocado, quebrado, rasgado, viciado nesta permanente depressão de sentimentos poéticos e ácidos.

Eu vou parar. Vou parar o ciclo de dor e raiva. Prometo.

(mas ela não pára e consome-me até à última réstea de ternura... beija-me...)

E no fim, do rosto comido apenas resta o silêncio da palavra que não soube libertar e nos livros do futuro nada mais constou que a cobardia da morte e da dor que é viver condenado a ser eu mesmo, de mim mesmo, para TI.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não se foge das coisas boas coração.....agarram-se bem forte com as ambas as mãos apenas para não deixar que elas fugam.
Adoro-te
Kicas