segunda-feira, abril 27, 2009

ESBOÇO

esboço

Sabes quando tens assim uma espécie de peça especial de um puzzle grande e complicado, demorado e desafiador, daquelas que encaixam em qualquer canto ou entre quaisquer outras duas, como que se de peça-mestra se tratasse? Uma peça matizada de mil cores que se funde com a história do puzzle, qual camaleão na paisagem? Sabes do que falo? Imaginas ou recordas na tua cabeça o que me veio agora à memória? Pensa então um bocadinho, acende uma vela bem lá no fundo de ti e procura nas gavetas poeirentas da lembrança. Vasculha, destapa os momentos que já foram e que cobriste com lençóis brancos, agora que és grande e brincar nada mais é do que um sonho por chegar.

Há gente que te pode fazer tanta falta como essa pequena peça maravilhosa que sempre ajudava a terminar o entretenimento de uma tarde. Há gente que está ao teu lado tão silenciosa como a noite de nevoeiro nas margens do rio, contando-te histórias fabulosas que antes só vias na tampa colorida da caixa do puzzle, sussurrando-te ao ouvido ou espelhando no seu rosto, lendas tornadas reais num instante, num olhar, apenas. Há gente assim, que diz boa noite e te abraça quando os pesadelos atormentam a noite, aconchegando-te, sorrindo-te no escuro. Mais do que o brinquedo que construías com a peça recortada.

E eu conheço gente assim. Respira ao meu lado sempre que piso a Capital do meu mundo.

terça-feira, abril 21, 2009

NO "LUMIAR" DAS COISAS SIMPLES

É o mesmo dia de há bocado, daqueles letrinhas tantas que se lêem sob a data deste mesmo dia, e continuo agora as palavras da manhã. Nenhum diário, nenhuma crítica. Apenas o desabafo do mais incrível e fantasticamente chegado momento; não agora, não hoje, há já tempo incontável e sem medida. O instante, ora bem, de sentir que presença alguma completa tanto o meu sono e acordar, como esta de que sinto saudade na distância contada em metros ou quilómetros, tanto faz. O instante mais alegre e sombrio dos tempos que foram sendo. Simples perceber... porquê.. É o mesmo dia daquela espécie de coisa nenhuma que saiu destes dedos ia já alta a manhã. E é sempre aquele instante e todos os que chegaram antes e vieram de seguida, que alentam a outra escrita e sem dúvida esta também..
Nunca me despeço do rosto que me diz sorrisos. Como agora, sempre lhe falo baixinho um boa noite. Gosto de ti, do cheiro da pessoa, da pele, do músculo, do cabelo rebelde, de cada recanto escondido e arrepiado. O calor húmido, que ferve ainda mais o ar aquecido pelo Sol lá fora. Um chegar perto, mais perto, muito perto; nem uma folha, nem um respirar, nada entre os olhares. Perto, tão perto que se confundem os sabores dos corpos, que se mergem perfumes. E deslizam esferas salgadas, devagarinho, entre poros de um abraço. À luz, à sombra, no escuro onde brilham olhos de gato; em qualquer lugar, em qualquer tempo. Desejo. Tu. Realidade.

segunda-feira, abril 20, 2009

Together

UMA ESPÉCIE DE NADA, ONDE SE ENCONTRA TUDO…

espera

Voltamos a nos encontrar, aqui e agora, um novo mundo, o mesmo mundo onde o espaço se cruza com o tempo e este vagueia-me por entre os dedos sem dó, sem esperas, para aqui, de novo, me olhares.

As saudades serpenteiam-me os olhos, fazem-me crescer água na boca pelo sabor quente e único das pautas que tão bem improvisas.

Aguardava-te… sabia que virias, sorrateira, silenciosa como a noite e pedes-me que te conte uma história, mas não são contos de fadas para sonhar e abrir portas à imaginação, que vais ouvir. Andaram fugidas essas palavras de colorir e de encantar, adormecidas, mas perguntas-me sobre a história. Não te quero falar das ondas, da maresia, das pedras redondas à beira rio que enfeitam as calçadas, das estações que harmoniosamente se sucedem ou mesmo do pôr-do-sol que embala o sono adiado dos turistas de pés descalços.

Querias ouvir uma história dessas era?

Querias que te descrevesse a cor da estrada, do alcatrão, o cheiro do pão acabado de cozer ainda a fumegar sobre os tabuleiros reluzentes. Queres vaguear de mão dada comigo no monte, na albufeira, por entre as ruas da cidade, na foz e descobrir essas maravilhas? Mas não te irei contar nada disso, sim, quero antes improvisar uma história real, com amores, encontros e desencontros, noites em claro por razão alguma e apenas um odor que corta devagarinho e prazerosamente. Prefiro ver os teus olhos revirarem com a surpresa do início do dia, dos nossos dias de carne e osso, rir, flutuar em pensamento e abraçar nobremente as nossas causas. Mas conto-te o que os dias me trazem, o gosto de te ouvir quando falas ao meu ouvido do outro lado da linha, quando um sussurro chega devagarinho, com a tua respiração rente ao meu cabelo e o ruído do metro se intromete na calçada dos nossos passos, quando a meio da noite, relembro todas as palavras e os olhares.

É então, como ao pousar a cabeça numa descoberta pela almofada, adormeço por entre as recordações dessa história real, das oscilações da tua voz, das quebras, das paragens, dos sorrisos que os teus lábios desenham aqui e além, do brilho dos olhos, da luz e das sombras nos contornos do teu rosto, quando as frases vivas revigoram e os sentimentos enevoados que espreitam. Gosto de saber que me falas sem ocultar as paredes rachadas da tua alma, quando me dizes bom dia, gosto de ti e dorme com a certeza de que uma certa presença invisível repousa ao teu lado, porque assim me sinto tão, mas tão perto do verdadeiro tu que olhos poucos vêem. Tão incrivelmente perto de ti.

Conto-te a história real das conversas nunca incomodamente sem assunto, mesmo a que surgem acabam por o conquistar, quando em silêncio se conversa com a mesma linguagem, embora renovemos os modos de expressão. Saberão os enamorados separados pela pipocas ou pela mesa do café, que a respiração serenada pela companhia conta um mundo de histórias? E que o livro da nossa memória é página única dos seus capítulos? Duvido…

Afinal acabei por te contar várias histórias, únicas, verdadeiras, pois cada pedacinho teu, são narrações de linhas brancas e amarelas, sons que se colam à cara fria e nos envolvem com o cachecol do teu olhar.

Não deixes de falar, não cales o teu espírito.

Faz-te ser quem és.

E a mim… nem sei… Perdi-me em pensamentos enquanto te escutava.