quarta-feira, dezembro 27, 2006

MONOTONIA

A monotonia tem a face da segurança.
Fica-se com medo de arriscar quando já conhecemos um certo caminho, aquele que nos parece prudente.
Não arriscamos. Temos medo. Consome-nos até ao âmago do nosso ser, o medo.
Acordamos e dormimos, seguindo a rotina e não admitimos o medo, não, admiti-lo é dar-lhe a importância que tem mas que não queremos que tenha, admiti-lo é admitir que a nossa vida é sem sal sem sabor, um caminho já gasto de tão percorrido. Não. Preferimos não pensar no medo, na rotina, na monotonia...
Não vestimos amarelo porque não é costume, aquele vestido às bolinhas na vitrina tão bonito... Comprar? Nem pensar!! Não tem nada a ver com a roupa que visto.
Comer gelado de manga? Mas sempre comi de chocolate! Acordar às 7 da manhã como sempre, beber café como sempre, sair e comprar o pão no sítio de sempre à hora de sempre, andar pela mesma rua, ler sobre os mesmos assuntos, usar as mesmas palavras, olhar as mesmas pessoas...
Porque é sempre o mesmo...
Porque não observar o Amazonas? Ou talvez a falar com um grupo de selvagens na ilha da Boavista em Cabo Verde. Ou, quem sabe, a dançar ao som dos tambores na Baía.A passear no Panteão na Grécia. Ou talvez a entrar num barco em Veneza. A aprender a falar criolo com um rapazinho em S. Tomé e Príncipe. Ou a ver um leão bebé no Kruguer Park, em Moçambique. Fazer uma luta de bolas de neve no Nevada, alimentar um gato em Cuba, dar um brinquedo a uma criança que nunca tinha visto um e observar o seu sorriso, rebolar num parque verde em Londres e sentir o cheiro da relva.

A monotonia meus caros, tem como face o espelho que nos observa todos os dias ao amanhecer.
Porque não partir todos os espelhos do mundo? Sete anos de azar? Porque não? Pelo menos todos os dias seria uma vida diferente.

E no Amor?
A intensidade de sempre, as conversas de sempre, as atitudes de sempre, os presentes de sempre, as posições de sempre... Acordar de manhã, o beijo matinal, a queca do costume... depois o até mais logo que temos de ir trabalhar!!! Hora de jantar... ai que dia estafante, barulhento, dificil, queremos o sofá e nos acomodar a frente da porra de uma caixa que nos vicia e retira o sumo das nossas almas, chupa-nos até ao âmago qual vampiro na sua presa.

PORRA... Não vos parece que está na hora de acordarem?

Arrisquem um dia apenas, um só dia... Acordem... qual beijo de bom dia? Primeira coisa a fazer mesmo estando ela ou ele a dormir, esgueirar-se por baixo dos lençois e brincar com os dedos dos pés, as coxas, deixar as mãos percorrerem todo o corpo da pessoa amada como se procurassemos o ar que respiramos insistentemente sem parar. Saltem da cama... Façam amor na mesa da cozinha, experimentar todas as posições, tentar com manteiga, experimentar com chantilly. Na rua, no parque, no trabalho, no carro... - indecente??? Indecente é o pobre de alma que vive na monotonia e não usa o que de mais precioso lhe foi dado... a Vida, a capacidade de surpreender e de viver...

Estão longe um do outro? O telemóvel afinal serve para quê? Liguem e sussurrem desse lado assim que a chamada iniciar... - Quero-te... desejo-te... adoro sentir os teus lábios, a tua língua, quero o teu corpo entranhado no meu, fazer amor contigo qual selvagens na margem do rio.

Depois, antes de se vestir aquelas coisas banais (fatos e afins), que tal ganga justa a sobressair as formas do corpo, (saias... um mundo fabuloso de infindáveis possibilidades e imaginação) para que antes mesmo de sairem, fecharem a porta e ali mesmo à entrada dar uma rapidinha na monotonia e sairem abraçados de satisfação e êxtase.

Mais uma vez... estão longe um do outro? Nova chamada... - Estou à porta e agora mesmo senti-te a agarrar-me, a fechar a porta com o meu corpo... e o teu... bem junto ao meu... satisfaz-me, usa-me completamente, beija-me, faz-me sentir tua língua quente no meu corpo mas quero sentir o teu orgasmo com o meu...

Carro, metro, bus, barco, comboio... aiiii o comboio... quantas possibilidades infindáveis... naquele embalo. Sempre os mesmos percursos, as mesmas tabuletas, aquela voz estridente e sofrega a anunciar a chegada do metro... (já agora... será que gravaram a pobre rapariga enquanto ela quebrava a monotonia com o produtor no próprio estudio?)

Trabalho... blah blah blah... sempre as mesmas caras, os mesmos problemas, as mesmas soluções... Tenho perfeita consciência que aqui por vezes nem sempre é fácil.

Solução?

Truques!!!

Experimentem dizer ao patrão que apagaram todos os ficheiros do servidor informático, assim estilo... foi sem querer. (Resultado bombástico mas fabuloso).
E que tal confidenciar ao colega de trabalho algo tipo: - Estou com um tesão!!! Vejam a reacção e divirtam-se (garanto-vos que vale a pena).
Liguem a um cliente/fornecedor e digam-lhe que a empresa vai fechar e ele perderá todo o cash investido ou a polícia já vai a caminho para levantar o material fornecido e já pago AHAHAHAH
Óbviamente que alguns destes truques podem resultar no despedimento imediato, mas acham ainda assim que a monotonia vale a pena?

Claro que sim. A vida deve ser vivida de extremos mas o extremo também é monótono. Por mais que se tentar estar a viver um segundo diferente do outro, acabamos por cair no erro da própria monotonia... o que é em demasia, é enfadonho, cansativo, aborrecido.

Então afinal de contas, depois de tudo o que até aqui disse, qual é a melhor forma de quebrar a monotonia?

Ser criativo, fiel, conhecer a outra pessoa o suficiente para se saber que afinal... há coisas que se desconhece. Saber que não somos apenas um mas sim... dois. Saber não ser egoísta e arriscar uma estalada, um sermão... Amar nos locais mais impróprios mas também saborear os momentos íntimos dos lençois. Diálogo... saber falar sobre sexo, masturbação, kamasutra e para muitos sexo anal (arghh pensas tu puritano que lês este texto mas lá no fundo és pior que as próprias palavras que aqui estão escritas).

Falar de Amor... carinho, carícias, palavras de encantar e sonhos perdidos mas encontrados em conjunto... saber falar de alma para alma, apenas com os olhos.

Sair de manhã não com o sentido de dever cumprido, mas com a sensação de se querer mais e melhor com a pessoa que amamos. Surpreender... uma flor... chocolates... assistir ao pôr-do-sol... à lua a nascer... ao entardecer.

Beijar como se o amanhã não existisse, mesmo que interrompendo um discurso, uma aula, uma chamada, uma reunião. Sair e voltar para traz... e fazer amor. Conforto... oferecer e saber aprecia-lo em conjunto.

Saber chorar quando é tempo de chorar e permitir que nos aconcheguem as lágrimas... saber aconchegar as lágrimas do outro e dizer bem baixinho - Amo-te... se choras, eu estou aqui, se te doi diz-me onde para te curar com o meu beijo, se te sentes frágil, bebe da minha força porque ela existe... apenas para Ti.

Saber viver... mas acima de tudo... saber Amar de todas as formas que nem sequer, ainda me lembrei para aqui escrever...

2 comentários:

Anónimo disse...

"E que tal confidenciar ao colega de trabalho algo tipo: - Estou com um tesão!!! Vejam a reacção e divirtam-se (garanto-vos que vale a pena)." ai vale??? Tens que me contar!!!!
Uau....sem monotonia e muito,muito mente aberta.....amei mas não será tudo o que tu escreveste rotineiro gerando dessa forma a monotonia na mesma? Não fica uma relação ao fim de x de tempo em comum rotinada?Quer seja porque conheces bem a tua cara metade quer seja porque naturalmente ela assim ficou?A questão fulcral é será possivel evitá-la?Teremos nós enquanto seres humanos a capacidade de inovar diáriamente?
Beijos lindo
Kicas

SAMU disse...

Teremos nós enquanto seres humanos a capacidade de acreditar que somos capazes de inovar?
A verdadeira capacidade de cada um de nós é a de saber e aceitar que somos rotineiros desde o dia em que nascemos. A rotina não é o problema, o problema está nós.
Saber lidar com a rotina de forma a que não afecte a nossa vida, individualmente e em comum com alguém.
Sim acredito que seja possível usar a rotina contra a própria rotina, tornando-a inócua, vazia, e preencher nossas vidas com pequenos momentos diários, fora do comum.
Que te parece um piquinick dentro de casa?
Um serão rodeados de cobertores e mantas à luz de velas apenas e só a discutir o mais banal da vida, o nosso dia a dia?
Pequenas coisas... pequenos objectos fora do sítio...
Existem dias em que a rotina será inevitável, mas completada com todos os outros diferentes, nunca chegamos a nos aperceber.
Fundamental... Querer e fazer por isso... dialogar... negociar... amar... saber dar o 1º passo.
Enfim... basta olhar em nosso redor e saber que a rotina só existe... porque queremos!!!