A palavra quer ser escrita mas não quer ser declamada.
Ela quer a cobertura serena do silêncio, a solidão inconfessada da leitura clandestina.
A palavra é meretriz. Dá-se sem prazer pelo favor de ser escrita, de finalmente adquirir a forma orgástica da caligrafia.
A palavra é, sem dúvida, imoral.
A palavra fode-se a si mesma. Masturba-se eternamente enquanto aguarda a violação inevitável da caneta.
A palavra odeia-se.
Sabe-se à partida imortal e isso atira-a na angústia silenciosa da falta de amor. O tempo não ama a palavra. Não lhe concedeu, jamais, o doce sabor do fim.
O medo da morte.
A felicidade para o ser precisa dos limites do terror. Precisa saber que amanhã tudo poderá ser vazio.
A felicidade vive na necessidade do vazio.
Ansiosa.
A palavra não conhece felicidade.
A palavra não se conhece.
A palavra precisa da mão do Homem.
Vive subjugada às suas vontades.
Odeia-se.
A palavra vive na esperança do apogeu da palavra última, do ponto final.
Do fim.
1 comentário:
Olá Samu.
Obrigada pelos comentários, deixados no meu blog.
São para mim uma fonte de inspiração. Voltei a encontrar em mim aquilo que pensava que há muito tinha desaparecido.
Obrigada, por me ajudares a descobrir isso.
Infelismente vou ter que fazer uma pausa.
Por motivos de saúde vou estar ausente durante uns tempos.
Não vou poder "postar" nada, pois o meu acesso ao cumputador e à internet vai ser restrito. O que é pena. :(
Podes deixar comentário sempre que quiseres. Sempre que possa vou poder ler.
Espero que em breve esteja de volta.
Obrigada por tudo. ;)
Mil beijinhos.
Até breve.
Enviar um comentário