quinta-feira, dezembro 14, 2006

A minha Carta

Hoje foi dificil ver-te partir, ficar com a tua ausência e nela deixo o vento beijar-me, a chuva molhar-me , na impossiblidade de sentir o teu abraço, de ler as tuas palavras, de ouvir tua voz, de sentir tudo de mim em ti!

Entrego-me ao céu estrelado tentando adivinhar o que ele me diz, onde estás, o que fazes, se pensas em mim, se ainda me queres, apesar dos meus medos, desvaneios, as minhas palavras retorcidas, a loucura que me invade, os sentimentos partilhados, a embriaguez que me invade os sentidos e me recebe sem receios.

Quantas vezes já ouvi falar em sonhos, de sonhos...
tantos, de tantas faces... de sonhos como se estivesse dormindo... acabo sempre por acordar no verdadeiro sonho, este que é quando se está acordado...

A cidade começa a adormecer. Teve um dia agitado.

Agora enquanto a cidade adormece, fico a olhar pela janela, com os olhos perdidos num ponto qualquer e busco de uma forma inconsciente rever o passado, aquele vivido horas atrás, minutos, segundos, preencher as saudades, procurando o cheiro, o gosto, o toque, momentos que me preencham a tua ausência.

Agora enquanto a cidade adormece, tento também eu adormecer... em vão. Tento também adormecer o palco onde és a actriz principal, tornar-me o espectador único na esperança de mais uma vez, mesmo sendo por um breve instante, rever-te e assim adormecer... contigo a meu lado.

Enquando a cidade se deixa envolver em mais uma noite fria, revivo a minha história na fria realidade dos momentos doces que pertencem agora a um guião cujas páginas foram viradas.

Agora enquanto a cidade adormece entendo que o amanhã é já daqui a um nada estendido no tempo...

"desperto"

Procuro saber o que é esse amanhã... mergulho em dúvidas, angústias, incertezas, mas mesmo assim... deixo-me levar. Entrego-me às tempestades, aos medos, ao saber que tudo o que sei é tudo o que me deste...

"sorrio"

Tento lavar as feridas do frio e partir de novo ruas fora... encoberto num manto húmido pelo orvalho que cai, sem me importar com o que deixo, rumo a uma cidade desconhecida por fora, mas entendida por dentro.

"Parei"

Fico a pensar se te posso ensinar mais caminhos que te levem aos meus segredos.

Imagino-te sentada, pensativa, imersa em navegações e explorações secretas. Imagino-te, tão somente.
E porque me sentes e me sabes, ergues as mãos e acaricias-me o rosto.
Pergunto-me onde deixaste o desejo que te consumia e o substituíste por um sereno sorriso. Pergunto-me onde me deixaste. Algures num tempo cansado passado, numa rua algures nesta cidade.

Existe um Eu que vive o mundo e o cansaço eterno de começar todos os dias uma nova história e terminá-la antes de o Sol se pôr.
Existe um outro Eu que só vive no teu mundo. Um Eu mais largo e mais profundo, com lábios liláses e vozes que ecoam dentro de ti.

Escrevi-te uma carta. Deixei-ta algures num dos meus recantos. Sei que a saberás encontrar. E quando o fizeres sei que morrerei algures. E sorrirei porque só tu és o meu legado no mundo.
Só tu e as tuas mãos curvas e o teu corpo doce.
E basta(s)-me.

“escrito num pedaço de papel algures pelas 4:45 da manhã e tudo o que bastava, era saber-te ali, no meu pensamento, dentro de mim, no meu coração”.

Sem comentários: