quarta-feira, dezembro 20, 2006

SEDUÇÃO

Uma nova noite se aproximava... Como usual a sede de conceder a liberdade aos dedos retorcidos era maior que a própria vontade, entranhava-se dentro de mim o querer de me expor pela música.
Dirigi-me até ao meu piano... como um coxo... exitante... com o receio de ser esta a ultima noite de prazer... de ver aquela imagem de Mulher com a qual fantasiava todas as noites e teimava em se enconder naquela mesa ao fundo do bar.
O ambiente estava abatido. A luz forte de um azul escuro desfocava-me a vista... Não te via.
Sentei-me... o fumo dos cigarros deslizava pelo movimento da luz criando um efeito de espiral... tal como me sentia... drogado pela vontade imensa de te ver... de me expôr.
Silêncio... o pouco público que ali teimosavamente persistia brindava com mais um whisky as parolices do dia-a-dia.
Bati forte nas teclas como quem anunciava o fim do mundo na esperança de apenas ouvir os meus dedos e calar as vozes irritantes que insistiam em não se manter.
Meu corpo tremia como se aquela fosse a noite onde o vortice da desilusão por não te saber ali, se abatesse em mim.
Insisti com o som que me vinha das entrenhas... desprendi-me do momento, fechei os olhos...
No mesmo instante abri-os... silêncio... um vazio tremendo na sala e então... lá estavas tu... sentada ao fundo da sala, escura... apenas o vislumbre das pernas entreabertas... o azul fosco batia em tuas coxas como se uma estrela cintilasse sozinha no escuro da noite... despertei.
Meus instinto foi o de tocar a minha última sinfonia como se o amanhã não mais existisse... o som do piano fundiasse com o fundo da sala numa valsa única de mistério e provocação...
Vislumbrei de novo a silhoeta das tuas pernas que ao fundo da sala cativaram o meu desejo de te saber Mulher... estremeci... dançava ao som dos meus dedos numa cumplicidade estonteante.
Como se estive a fazer amor com a música que estranhamente jorrava de dentro de mim.
Aproximaste-te... estremeci... não mais sabia eu a forma de como me manter atento às teclas tocadas, mas misteriosamente meus dedos acompanhavam cada movimento do teu corpo como se fosses tu quem estivesse naquele piano... a possuir-me...
Insisti. O som forte dos graves misturavam-se com a clareza dos agudos e chegaste-te até mim... teu corpo dançava sorrateiramente no meu... senti teu rosto junto ao meu... respiravas ofegantemente como se embriagada ao som que tu própria comandavas e eu tocava.
Respirei fundo... vislumbrei de novo a sala vazia, oca, apenas para a certeza de que ninguém violaria o nosso momento. Era-mos apenas os dois... eu, sentado ao piano na incerteza de querer continuar a tocar, e tu na certeza de me quereres seduzir pelo movimento do teu corpo...
Vestias seda ou cetim... não sei... vermelho ou seria um branco escuro... meus olhos não sabiam mais o que ver, onde me concentrar...
Forçaste minhas mãos a parar de bater em cada uma daquelas teclas... mas o piano continuava a passar aquela valsa que te hiptonizava... num momento sentaste-te em mim... ao piano... contemplava agora o teu rosto de linhas suaves e olhos penetrantes... olhavas-me como se eu fosse a presa e tu... o predador.
Chegaste-te a mim... teus seios sentia-os agora no meu peito... rijos. O piano continuava a soltar o som que naquele momento nos envolvia suavemente numa cumplicidade de desejo, erotismo... passei meus dedos em teu rosto e deixaste teu corpo descair a minha frente oferecendo-me tudo aquilo que imaginara todas as noites anteriores... tocar-te... sentir-te... agarrei-te pela cintura e puxei-te de novo a mim... meus lábios húmidos e receosos procuraram tua boca... fugias... insisti... roubei o beijo ansiado. Tua boca me possuiu naquele instante. Senti o teu sabor em mim... estremeci por te querer ainda mais do que todos os momentos em que imaginariamente te teria consumido.
Sentiste a minha ânsia em te querer. De novo deixaste teu corpo descair oferecendo-me todas as formas e contornos do teu corpo... olhei-te nos olhos e enquanto isso minha mão fazia descair o vestido dos teus ombros... caiu... naquele instante teu corpo de Mulher jazia para meu deleite ao meu alcance... beijei sorrateiramente o teu pescoço... minha lingua perdia-se em partes do teu corpo e deixei-me seguir pelos teus movimentos aos teus seios...
Estremeceste completamente. Teu aroma embriagava-me agora os sentidos... não era mais eu quem comandava o meu corpo... eras tu... beijei-os demoradamente e a cada passagem dos meus lábios tuas unhas cravavam-se no meu corpo na ansia do desejo ser maior, imenso...
Sentei-te em cima do piano e deitaste teu corpo de pena de andorinha expondo tudo o que de Mulher há em ti... fiquei atrevido... minhas mãos percorriam cada passo das tuas pernas... tuas coxas... O piano insistia na valsa que até ali nos acompanhara e estranhamente gemias ao som de cada grave que ela emanava debaixo de ti... puxei-te de novo a mim e possui o teus lábios de novo na incerteza de ali estares... senti de novo o teu sabor... balsamo de alecrim caralemizado... de novo deitaste teu corpo no estrado do piano e agarraste-me pela cintura com as tuas coxas oferecendo-me de novo o mais intimo que existe em teu corpo acetinado... deixei-me percorrer com meu dedos... toquei levemente e sentiste os meus lábios... gemeste muito suavemente... humm sabia-te exploradora de um mundo desconhecido para mim até então... agora presa, não mais predadora.
Minha face rossava em tuas coxas enquanto minha respiração quente e ofegante te oferecia o desejo que ardia em mim... puxaste-me mais até ti e num ápice sabia-te minha... meus lábios ardentes e húmidos beijavam o que me expunhas como tesouro escondido... agora... descoberto. Tuas mãos percorriam o teu corpo lançando gemidos cintilantes e enebriantes... de extase.
Demorei-me apenas para a certeza de te sentir possuida... minha... não mais eram os meus lábios que se sentiam húmidos. Sentia o bater forte do teu ser em mim... - Não pares... - lançaste tu as palavras ao leve... contorcidas de desejo... emoção...
levantei teu tronco para de novo possuir os teus lábios... beijaste-me... demoradamente... tua lingua enroscada a minha ao som da valsa que ainda tocava daquele piano velho... mas jovial no som que te embrulhava o corpo em teus movimentos.
Sussuraste-me - "Possui-me" - para de seguida de novo ofereces-me todo o teu corpo e esplendor de Mulher como se de um sacrifício tribal de tratasse. Cravei minhas mãos em tuas coxas e puxei-te até mim... naquele momento gritaste. Sentias finalmente tudo aquilo que ansiosamente me querias roubar... o desejo... a sedução de dois corpor unidos pelo hemisfério do prazer.
Os graves intensificaram-se bem como o movimento de nossos corpos... ao som dos agudos tua voz gritava gemidos languidos de prazer... teu corpo húmido pelo calor infernal das luzes que se abatiam sobre o piano forçavam-te a passear tuas mãos pelo teu tronco... pelos teus seios agora esbatidos à luz azul que te consumia mas imponentes como as montanhas... selvagens...
Deixei-me consumir pelo desejo de te sentir minha... ali... ao som do meu piano... ahhhh como te sabia totalmente em mim... e eu... em ti... teus braços soltaram um longo circulo em teu corpo num tremendo grito que te consumia as entranhas... abraçei-te com meu corpo fundido ao teu... uno... no vislumbre do teu orgasmo em meu ser... Estremeceste... acaricei teu rosto... soltaste uma lágrima que acompanhava o teu rosto como se uma cascata se tratasse... beijei-te... delicadamente como se beija as pétas de uma flôr... sussurrei-te - "amo-te"... soltaste um sorriso de menina delicada e procuraste meus braços para repouso do teu corpo...
O piano parou... "Palmas"... batidas fortes de mãos a vingaram-se de um dia estafante das indelicadezas da vida... Abri os olhos... dezenas de vultos vigorosamente aclamavam as teclas que acabaram-se de se silenciar...
Procurei-te... não te vi... minha última valsa... tocada ao som do teu desejo... do teu corpo...
Não mais voltei a tocar... minhas mãos agora tocadas pelo teu ser... pertenciam-te.

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