O primeiro olhar sabe-me sempre ao primeiro beijo que ambos tecemos numa manta pintada pelos nossos dedos por entre os corpos que se uniam, belos olhares quentes trocados e imensamente profundos... sabes-me irremediávelmente e loucamente apaixonado por ti.
Somos feitos das memórias que tecemos, procurando a vida que arrumámos no baú, como vitaminas que nos fortalecem quando o corpo pede calor às recordações. Somos feitos da música que escorrega do luar. Queria ganhar esquadria no teu peito. Não cabe lá o meu som?
Sei que te pertenço, sinto-o mas também o permito, o desejo que assim seja e tal como uma criança inocentemente te abro o peito e deixo-te entrar sem mais demoras.
Sim porque te quero e o desejo não sabe mais por onde escapar, arder, consumir... tal é a sua força que apaziguo apenas no momento terno e suave em que abro os olhos e sinto os teus em mim.
Enrosco-me no lençol arranhado pelo nosso tempo, retiro de mim o que do Inverno guardo, sentinela de palavras que me escorrem às mãos-cheias, tão vazias quanto o arbusto morto em raiz de fraqueza, tão abandonadas à sorte de um bem-querer que não se quis, mitos de romaria a correr para saudar o vento quando o corte da laranja suspensa ainda sabia a sumo fresco. São risos, alcateias de uivos a encher a minha noite, trepando devagar pelos meus cabelos soltos e curtos, ecoando como águias em fúria empoleiradas num campo de malmequeres à espera da presa esguia, dos olhares e do medo, investindo contra a minha nostalgia que transpõe a autoestrada em segredo e acorda contigo, espreguiçando-se cedo no abrir das tuas pálpebras.
Quero acordar contigo hoje... amanhã... e depois...
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