A languidez do fim da tarde alastra-se pelo meu corpo cansado. O ar é translúcido e a cor do céu um azul forte que começa a desmaiar, e ganha já contornos laranja. Foi todo um dia em que parecia ter de novo quinze anos, ou então foram as horas que esticaram e de súbito havia outra vez tempo para fazer tudo o que sonhava. Talvez a juventude se esteja a despedir quando reparamos que os momentos de liberdade física escasseiam. A liberdade da vastidão da praia e do mar, das matas e dos arroios, dos passeios junto ao rio, a liberdade de ter tempo para fazer todo o nada que se deseja. Por isso vibro quando surgem estes dias soltos, como páginas avulso repletas de poemas que não pertencem a livro nenhum. Não são vividos com ponderada programação, nem com alinhamentos pré-definidos, mas antes com a mesma alegria, a mesma ilusão naif e o sorriso gaiato.
E agora estendo-me ao final da tarde no sofá da sala, com a janela entreaberta. O meu corpo queimado pelo sol recente em cada músculo a beleza deste dia, a prova de que há mesmo muitos cansaços bons. O chilrear crepuscular dos pássaros embala-me no torpor do dia já prestes a terminar. Resisto a cerrar totalmente as pálpebras para não perder a mudança das cores das coisas, através das vidraças. As palavras que ondulam no meu pensamento são alinhadas uma a uma no entardecer que parece confiar só a mim o segredo de memórias recentes que me trazem um sorriso aos lábios.
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