domingo, abril 15, 2007

ESTAÇÕES

Estou à primavera de sensações indóceis. Florações extremas, e no entanto, mudas, só eloquentes de silêncio e olhar. Discretamente solitário, aguardo pela ventania inconfidente da alma, afim de que ela cante minhas proezas, revele minhas histórias, as sonhadas e vividas. Minha quietude é de bosques que trazem a urgência dos verdes, revivendo a cada estação, o definitivo da vida. Cresço inesperadamente nessa temporada, feita de noites arrastadas, consumida no ópio de palavras silenciadas pelo medo de morrer de amor. A estrada desses mornos dias é longa demais, a rotina é uma recta que desejo bifurcar porque sonho com curvas de mulher. Sonham as curvas comedidas em mim. Mesmo calando sussurros, palavras, frases inteiras, orquestro-me, alcanço as estrelas dos meus delírios, agigantado por dores e agonias, por ilusões, sois temporais, secretamente difundido nas minhas entranhas, nas dimensões multiplicadas de meus eus. Minha natureza sabe que, a despeito de quaisquer rios que eu navegue, desembocarei sempre em versos livres, e assim será até que as flores perfumem alegrias nas curvas dessa mulher, no doce leito do seu ser.

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