sábado, abril 14, 2007

A DOIS

Escrevo-te com fome e silêncio. Longe de convenções, afastado da lógica, mantendo a realidade do meu ser. Mas o teu nome, não sabes, está pregado na minha boca. Deliro-te. Deliro por ti. Neste meu refúgio de girassóis, no meu exílio voluntário, no cansaço, no recomeço, na esperança, na solidão das horas mais minhas, onde me revejo e renovo, onde convoco enigmas, inexplicações, distancio-te para te ter mais perto no paradoxo do reencontro. Despejo e desejo, carícias e urgências. Oscilo extremos de agonia e gozo. Dou este que na ausência te ama por entre nuvens de algodão doce. Preencho-me com a tua falta, por entre labirintos perco-me para de novo te encontrar dentro de mim. Salto por entre mundos reencontrando-te a cada instante. Este sou eu, sem avisos prévios, improcedente, doce, afeito ao afecto, por onde arredio também, tudo de sim, tudo de não, sempre a dois. Não sou apenas um jogo de palavras. Apareço como a afirmação da minha inconstância assumindo os meus contrastes, esgotando-me na sombra e renovando-me na luz. Quero-te com a minha cara amassada de sono, da torre dos meus delírios, quero-te no presente, no futuro, quero-te aqui e na terra que é só minha para fazê-la tua, com a urgência das estações, primaveras e verões e abraçar-te na nostalgia dos invernos, platónicamente ou não, possuindo-te com força, perto e longe, da forma que quiseres. Não sou egoísta. Transito, oscilo, alucinado, responsável, contente, cabeça dura, sim eu sei, cabeça dura. Mas com tanto amor impregnado na distância, na presença, com aquele geito de criança ardendo impulsos, quando estar perto é a finalidade a que me proponho. No teu colo, entre as estrelas que ainda não tocamos, na poeira cujo vento levanta e acumula histórias, momentos, instantes, na cama dos nossos afagos, na madrugada que não se fez ainda. Este sou eu, aprisionado à liberdade da busca e quero-te assim, toda minha, quando tu fores tua, e eu também, porque há nas minhas pegadas toda a minha alma que arde por ti.

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