sexta-feira, julho 06, 2007

PIANO

Meti a chave à porta e ao meu encontro vieram as notas musicais do teu piano de longa cauda negra. Mesmo antes de ver a expressão do teu rosto, percebo que não estás bem. Só tocas piano quando os teus dias são cansados, só quando a pressão é tão forte que te faz explodir. Nesses momentos, os teus dedos, como varinhas mágicas, transferem para as teclas, todas as emoções que habitam em ti. Invejo-as, porque lhes tocas, são aquelas teclas frias que recebem o calor da ponta dos teus dedos. São elas que são acariciadas e gemem por ti. Queria que me entregasses o teu cansasso, a tua raiva, a tua frustração, que fizesses de mim tudo o que te apetece. Hoje decidi ganhar esta guerra fria e vou entrar nessa partitura. Vou entrar no teu mundo e roubar ao piano o toque que é meu. Levo-te para um banho perfumado, passo aquele creme no teu corpo de cetim, visto-te o vestido vermelho que te escorrega lindamente no corpo. Aquele cujo decote faz adivinhar os contornos do teu peito, o redondo da tua anca, a rigidez das tuas coxas. Calço-te uns sapatos pretos agulha. Ponho-te o rímel preto nos olhos e um batom vermelho. Não esqueço o perfume em mim... aquele que te embriaga e que deixa zonza como se eu fosse um forte licor. Apago as luzes. Acendo uma vela. Queimo um incenso. Subo-te para o piano, o vestido sobe insinuando-te debaixo dele, o teu corpo nu. Sento-me perto, cruzo as pernas, e da minha boca saem sabores doces, acordes em todo o teu corpo. Levemente, deixo-te cair para trás, deposito o meu corpo na cauda do teu piano. O teu cabelo espalha-se pelas teclas. A música pára. Huuummm, e agora???

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