segunda-feira, outubro 22, 2007

AINDA AGORA

Ainda agora, à pouco, enquanto a água misturada com espuma me deslizava no corpo, perguntava-me porque é que, de repente, tudo se torna tão urgente. Porque é que um momento trás atrás de si uma avalanche de sentimentos que não se explicam, que emergem apenas, pensando nós vindos do nada, e nos consomem o corpo, nos corrompem a alma numa furia repentina.... Ainda agora, à pouco, enquanto tocava à campainha, me perguntava o que estava a fazer aqui. E respondia-me que vim porque não podia ser doutra maneira. Que vim porque assim o desejava, o querer estar contigo. Simplesmente.

Ainda agora, à pouco, quando me abriste a porta e me sorriste, não notaste. Talvez não tenhas notado que o meu coração batia acelerado e o sorriso que te retribui continha um nervoso miudinho que não quis que saísse de mim. Quis calá-lo, disfarçá-lo. Algo que arrasto desde o dia em que te vi, tanto tempo depois, ainda me pões assim. A surpresa do encontro. E eu sabia...
- Viste cedo...
- Vim, quero te ajudar e preparar-te algo muito especial.
- Sabes que esta noite tu és o convidado, por isso dá-me as honras pode ser?
Falas-me sorrindo enquanto me ajudas a tirar o casaco que pousas à entrada da porta. Sorris-me ainda quando me abraças, sorris-me quando me olhas parada numa atitude que me enternece. Estendi-te um beijo longo e suave, um beijo que te enche os lábios, carnudos, húmidos e quentes.
Ainda agora, à pouco, me mostraste a tua casa como se fosse o teu refugio, o teu castelo. E a sala, iluminada com a lareira acesa era o local perfeito para tudo o que estamos a descobrir em nós.
- Tens frio? (questionei-te com a face bem perto do teu pescoço)
- Porque perguntas?

- Vejo que tremes… espera… aconchega-te em mim, deixa-me te abraçar! (passei meus braços por ti e cheguei o teu corpo para bem junto do meu… minha face tocava na tua, pudia sentir minhas pernas a tremer… o quente que ali sentia não era da pele, era da Alma.
- Levas-me à varanda? Adorava ver a paisagem que admiras todas as noites quando olhas para as estrelas.
E entre gotas de chuva me mostraste todas as luzes da cidade, lá em baixo, no vale, como se tudo isto fosse o teu reino. Luzes trémulas envoltas numa chuva miudinha que cai sem cessar e que dá, a todo o teu reinado, aquele toque de mistério dos contos de fadas. Podiam ser os anjos que choram por nós, lá em cima, num céu que se vê negro porque a noite vai alta e onde as estrelas brilham, mesmo sem se verem. Ainda agora, à pouco, me envolveste os braços com os teus braços e me beijaste. Tão docemente...
- Já te disse que gosto de braços e dos braços que se envolvem com outros braços e criam laços e abraços? Os nossos braços... “sorriste”
- Ainda à pouco, recordas-te? que estava em silêncio para não esquecer, quando me despias numa melancolia e me dizias que era assim que me querias. Vestido...só para teres o prazer de me despir? É que por vezes as palavras não têm qualquer sentido.
Os corpos numa dança embalados num balanço de compassos acertados.... lançando nas paredes as sombras (nossas). Sombras chinesas dos desejos...

A tua boca que me procurava os seios excitados por entre o colar que desce no teu pescoço. Uma imagem tão sensual... ver-te numa procura desenfreada entre pele e fios. Mãos mil, todas tuas, que tocam e queimam. Os cabelos que me passam pelos dedos, fios de algodão, o toque no teu sexo húmido... sorver a vida num trago sôfrego entre saliva, suor, alma, pele... e os corpos de novo nas sombras chinesas, perto da lareira e dentro de fogos maiores, que ardem, que invadem e nos possuem.
- O jantar… ainda queima!
- Espera, eu desligo o forno, porque hoje, tu és Rainha. Farás de mim o que quiseres, sim, aqui, teu porto de abrigo, minha Alma que te pertence.
Foste buscar água e antes de te deitares ao meu lado, numa manta que tinhas colocado junto à lareira, fiquei ali, parado, observando o teu corpo enquanto lentamente te despia, na penumbra da noite iluminados pelas sombras dos nossos corpos pintados na parede pelas chamas da lareira, e rodeados de sombras. Sempre as sombras...
Viste os meus olhos negros. Vi-me nos teus. Toda Eu, alma, reflectida no teu olhar. Sabes o quão grande isso é? Vermo-nos no olhar de alguem?
Ainda agora, mesmo agora, quando deitaste o teu corpo junto ao meu e me deste um braço como porto para ancorar a minha cabeça...sabes o que senti?
Senti-me feliz. Sim, feliz. Enquanto deslizavas os dedos nas minhas costas, na curava dos rins, devagar, num toque de pólen, tão à flor da pele que arrepiava....feliz.
Enquanto eu brincava no teu peito... feliz.
Mexia no teu cabelo, ainda agora....feliz.
A lenha acrepitar, o bater silencioso do teu coração, a chuva lá fora, a musica a tocar baixinho...
"would you save my soul tonight?...would you tremble if i touched your lips?... hold me in your arms tonight. I can be your hero baby...Am i in too deep? have i lost my mind? i don't care...your'e here tonight....I can be your hero...
Apertavas com força a minha mão...e eu a sentir-me feliz.
Ainda agora, à pouco, as tuas palavras chegavam de longe, num eco, falando do tempo em que o meu orgulho não deixou crescer um sentimento.
Num sussurro falas-me ao ouvido:
- Tanto tempo depois...
(tanto tempo depois tu. Eu. Nós.)
Puxo-te para mim num abraço apertadinho... daqueles que apertam o peito, nos dão um nó na garganta e nos fazem voar todas as borboletas no estômago.
Como nós, que talvez já nos tivessemos esquecido que temos asas, e hoje, ainda agora, voámos.
Ainda agora me beijaste e me disseste chega-te a mim. (..." e deixa-te estar"...eu que já estou tão perto! Não sentes?)
Mesmo agora, ainda à pouco...

- Ama-me, faz Amor comigo!!!

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