sexta-feira, março 23, 2007

A ESPERA

- Cobre-me de palavras, disse ele. Desenha em mim as palavras que escreves. Os gestos que descreves.
Com um dedo ela tocou-lhe os lábios. Colou os lábios aos lábios dele. Prendeu-lhe a língua na língua. Suspirou na boca dele a palavra beijo. Desenhou a palavra beijo.
Ele entendeu. Tocou a mão dele. Apertou-lhe os dedos.
Desceu no pulso. Sentiu-lhe os braços. Os ombros. Os músculos tensos de desejo. Apertou-lhe os braços. Fechou-o nos braços. Disse a palavra abraço nos braços. Ele entendeu. Com uma mão, agarrou a mão dele. Pousou-a no corpo dela. A outra mão no próprio corpo. A mão dela guiou as mãos. A dele. A dela. As mãos dos dois seguiram os gestos. Desceram nos corpos. A mão tocou o sexo. As mãos tocaram o sexo. Levou os dedos à boca dele. À boca dela.
Disse a palavra. O sabor da palavra nos dedos. Ele entendeu. Ele beijou-lhe os dedos:
- Gosto quando me ensinas palavras.
Sabia que, se se movesse naquele instante. Se fizesse um movimento. Um movimento mínimo que fosse, o corpo não resistiria. Queria o prazer, assim. Suspenso. Preso entre as pernas. Preso pela força dos músculos que se contraíam. Preso entre os dois corpos imóveis. Colados.
- Não te atrevas a fazer um movimento. Disse-lhe. Ele riu.
Gostava de vê-la quando adiava o instante. Quando prendia tempo e prazer entre as coxas. Quando corpo e voz lhe diziam para esperar. Ele afastou-lhe o cabelo do rosto. Para a ver. Para lhe ler nos olhos o momento que sabia próximo. Ela olhou-o. Para o ver. Para lhe dizer nos olhos do prazer que sentia. E no instante em que, num movimento imperceptível se deram. No instante em que se misturaram no prazer liquido que deles correu. Ele beijou-a e disse-lhe da ternura sólida. Ela olhou-o e nos olhos dele ficou.
Esperava impaciente.
A espera no corpo. A espera antecipação. Sentia já as mãos que conhecia. As mãos que a conheciam. Quantas palavras ditas, descritas, em gestos. Em silêncio. De gestos, silêncios, faziam também o amor. Na boca sentia já outra boca. Outra língua que não a sua. Outras palavras que não as suas. Outro ar que não o seu. Fechou os olhos. Contraiu as coxas. Nas coxas cerradas, nos músculos contraídos, nas pernas, no sexo, sentia já o prazer. O sexo dele. Os movimentos lentos primeiro. Urgentes depois. Sorriu.
A recordação do olhar surpreso, da voz que lhe dizia:
- Ninguém ama como tu. Ninguém é entrega, dádiva, corpo e prazer como tu.
Sabia que ririam. Como sempre. Sabia que seriam riso e alegria. Prazer de estar junto. Olhou-a. Estendeu-lhe a mão. Ela olhou-o. Recebeu-o.
Murmurava-lhe ao ouvido palavras e saliva. Ele fechou os olhos ouvindo as palavras. Como se as desconhecesse. Como se aprendesse o som que têm as palavras. Ela disse dos gestos que faria. Como o tocaria. E ele soube que as palavras são gestos quando ditas assim, molhadas e sussurradas. Aprendeu o som dos gestos. Os olhos fechados seguindo palavras e voz. Ela disse-lhe do sabor da pele.
Enrolou na língua pele e sabores e descreveu-os para que ele os soubesse. Ele sentiu a pele como nunca a sentira.
Ele. Pele. Sabor. Palavras que ela dizia e saboreava. Ela disse dos segredos que os dedos lhe contavam quando o tocava. Segredos que guardara nas mãos e que sem voz lhe dissera. Ele entendeu os gestos feitos. Percebeu que o corpo conta histórias, guarda segredos. E o corpo recordou as palavras que ela murmurava. E sentiu os gestos e redescobriu segredos. Ela disse-lhe então do prazer.
Do corpo fechado num grito. Dos olhos que se abriam em espanto. Do grito dele que a rasgava. Da ternura que os colava e era amor. Ele pediu-lhe baixinho:
- Diz-nos outra vez.

1 comentário:

Anónimo disse...

Vou beijar o teu pescoço,os teus olhos...juntar os meus lábios nos teus..deslizar a minha mão no teu corpo,prender a tua nas minhas coxas...olhar-te nos olhos com desejo,paixão..sussurrar-te nos lábios que te vou deixar louco...articular no teu ouvido que te deixes levar por mim cegamente...que hoje,agora aqui sou tua....faz-me tua...
KIcas