quarta-feira, junho 20, 2007

ESCULTURA

Descubro-te, o corpo escondido por séculos de espera. Sopro, suave, uma brisa que aos poucos revela a tua silhueta. São pedaços de ti, que recolho aqui e ali, e junto para formar um puzzle complexo que julgo seres tu. Nas noites límpidas, olho o céu, procuro nele o brilho do teu olhar, e espero a todo o instante que venhas olhar para dentro da minha alma. Este ser, incorpóreo, feito de palavras apenas, assusta-te, e simultaneamente, provoca-te, numa sensação única que te faz procurar viver o instante, que desperta um frio no corpo, mas aquece a alma. Gritas em silêncio à noite, perguntas-lhe se realmente existe alguém assim, a noite, calada, diz-te que tens de ser tu a perceber, a descobrir. Esta noite, vou soprar de mansinho, desnudar-te o corpo, enquanto dormes, como o escultor afaga o barro, húmido, suave, que ganha forma nas mãos do criador, fazendo nascer aqui a mulher que encerra a alma, contornando a pele com a ponta dos dedos, dando-lhe vida, fazendo o sonho acontecer. Depois da criação, sento-me, olhando-a, tentando perceber quanto dela é teu, quanto dela é meu, quanto dela é nosso. Contemplo-a, procurando nas imperfeições as virtudes do ser diferente, percebendo as minhas falhas. Espero-te, na magnitude do teu ser, sem dúvidas nas palavras e sem medo de te perderes, afinal, ninguém se perde, porque sempre se guia pelos seus instintos, sempre terás em mim a mão que segurará a tua e te trará de volta da escuridão da tempestade, para a luz, da noite tranquila, em que a Lua nos ilumina os espíritos.

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