Eu quero falar-te daquela tarde parada em que plantei as mãos na tua margem do rio.
Eu quero contar-te, num grito rouco e afiado, sobre o dia em que me sentei em cima das sementes de um campo metálico e amei as lentilhas e o açafrão do papel de parede.
Eu quero dizer-te que quando chove no meu rosto não são as canas de pesca que te levam os segredos da minha alma porque as águas onde lançaste papagaios de papel guardam no fundo os berlindes e peões do meu amor de maresias apostadas.
Há palavras que dão vontade de mastigar. Apetece saborear cada sílaba, deixar escorrer o sumo de cada metáfora e guardar os ditongos partilhados na boca. Como uma sopa de letras fumegantes
onde a paixão engole um corpo líquido e solta as suas asas de borboleta-arlequim.
Há um beijo em cada palavra que me cai ao chão. Molhada de outonos, solta o amor que já não cabe na boca.
- Há nesta voz algo mais do que garganta. Talvez um rio de violetas dilatadas.
Quero sair de mim e fazer dos meus olhos a concha, o riacho por onde te passeias.
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