terça-feira, novembro 27, 2007

RELEMBRO

Quero teu corpo na cantiga, que enche o ar de magia quando me tenho como minha. Sedenta procura do amor. Quero manhãs que rasgaremos no véu da história com nossos delírios pueris. No surrealismo confidente do que adoçamos ao nos tocar. E querendo, construo nossas vontades desenhando em tua pele o que tatuaste na minha como teu paraíso. Repousa em mim teu sentir que descanso em ti meu prazer, onde navego em teu sonho bom e somos real abrigo para o acontecer...
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Relembro...
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A mão passando no rosto de espuma leve, cabelos sedosos enebriando o meu olhar faminto por onde navega a tua pele eléctrica e descontrolada em busca do porto de abrigo do meu peito com farol.
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Teu corpo nu sobre os lençóis ameaça o silêncio no bater do coração que me vai chamando, sussurando com a alma ao meu ouvido uma certa loucura.
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Sentado na cadeira do teatro dos sonhos respiro fundo, entreabrindo os lábios para tocar os teus mais fechados quando de repente a luz do candeeiro projecta as sombras do nosso delírio no contorno dos meus passos, ao aproximar-me de ti muito antes de chegar perto, ou de pensar em te tocar.
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Acima da almofada, as formas da cama que se movem demonstram a paixão forte que me agarra a ti, mesmo quando a distância separa nossos mundos líquidos e as lágrimas do prazer se desmontam num rosto pálido em busca de uma remota cor de sangue que apague a dor.
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Afundo-me nas tuas pálpebras saboreando a saudade agreste. Percorro as encostas de charme que se seguem a um arrepio na nuca. O fogo do teu corpo funde-se com gelo da minha saudade
e de repente as tuas nádegas flutuam na seda dos lençóis, os teus seios são batidos pela brisa da respiração que me ameaça fazer sucumbir à simplicidade e à doçura.
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Olhos nos olhos, digo-te sem te falar, que sorrio porque estás, porque ouço quando cheiro o perfume das flores do teu jardim que é num paraíso que tacteio, pelo brilho das coisas, como se o mundo começasse no chão e terminasse no tecto do prazer quando em uníssono se activam os sentidos, se desligam as amarguras do tempo feroz e selvagem e o mundo nasce de novo perante a aurora do nosso despertar.
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No profundo instante que os corpos se tocam já o mar evaparou para as estrelas e o céu tombou sobre a terra, já estou sentado na janela com o som fresco das manhãs, com as mãos suportando o rosto e a solidão da tua ausência aguardando pelo dia em que de novo te verei.

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