quinta-feira, dezembro 27, 2007

V - REENCONTRO

Não me demorei a procurar pelo telefone por entre as fotografias e negativos que se espalhavam pela secretária e liguei para o João, um velho amigo de infância que administrava a galeria onde expunha alguns dos meus trabalhos. Questionei-lhe sobre se ainda mantinha as minhas fotografias expostas e se alguém recentemente havia desenvolvido algum interesse em particular pelas mesmas “-Amigo, que bom ouvir-te. Sim realmente à uns dias uma pessoa demonstrou um interesse muito grande por elas, inclusivé estaria interessada em as adquirir.

-Não acredito! “retroqui de imediado com um ar sobejamente pasmado”

-Sim acredita. Uma moça, muito bonita adianto-te já, e perguntou-me se poderia te contactar para combinar o preço, por isso, dei o teu contacto aí do teu escritório. Fiz bem certo?

-Sim, sim João, agradeço-te a amabilidade. “desliguei a chamada incrédulo ainda.”

Decidi não mais dar tempo ao que não teria tempo, ou pensava eu não ter ou não querer. Na subtileza desse sentir, deixo o pensamento voar no instante do acaso e fecho os olhos. Lembro-me de ti, das tardes infindáveis de prazer, nas sensações que me animam quando nossas almas se encontravam para lá de nós e tocavam os limites infinitos da eternidade… “sorri”… recebo na minha face agora entristecida uma gota de saudade, nascida da luz ténue que se atravessa as janelas com portadas de madeira fechadas, lágrima solitária que perde forças no meu sorriso de criança, beija-me os lábios da mesma forma que tu me farias e cai desamparada no abismo da melancolia. Levanto-me do cadeirão, afasto a nostalgia que me enlaçou sem aviso e retribuo-lhe com o conforto das recordações, roço o céu com a minha essência e trago o brilho das estrelas colado nos fios do meu cabelo, e decido abrir o coração ao amor.

Saio pela porta fora sem pensar duas vezes. De olhos fechados dou início ao ritual, encanto sensações à flor da pele, enfeitiço a doçura das palavras, liberto desejos contidos e aconchego o casaco ao pescoço, e ouvem-se os meus passos acelarados para te ter mais perto.

Num passe de magia, o tempo e o espaço diluem-se por entre os protocolos de um relógio de cordas e acontece, num fugaz momento de felicidade estou junto da minha amada.

-Hoje sorri, quando ao de leve beijei os teus lábios! “disse-lhe eu por entre um sussurro ao ouvido na esperança subtil que seus olhos se abrissem”. Subtil promessa de amor esta que nos une, paixão que prova, saboreia, confessa e envolve a sumptuosidade e a grandeza das fantasias que se soltam entre os teus cabelos, ali caídos, decobrindo secretos anseios e revelando confessos caprichos que me tocam a pele, num fluir de gritos surdos que ecoam nas paredes do meu querer que se quer fazer teu.

“Suspirei”

Serena meditação esta, ali, sentado ao teu lado, de mão dada na intensidade dos sentidos, que param, esperam, estremecem e abraçam só para si, o auge do desejo prometido que me ofereceste nas tuas mãos, e agora, suspenso num tempo que não existe, não se faz sentir passar.

Mas o tempo realmente passa e ali era o momento de fechar os olhos e partir de novo pelo mundo lá fora. Um ultimo beijo, no canto dos lábios, o teu sabor, a injunção de um sofrer que transborda dos lábios de quem te procura na superfície de um qualquer lago, e não te vê, porque te sabe infinita na eternidade e a doçura escorre por entre os dedos.

-Até amanhã meu amor… estarei contigo de novo, hoje à noite em teus sonhos.

Parti de livre-arbitreo ou por uma imposição de forças que não se vêem, sentem-se, para lá da pele. Antagonismos e venturas de uma vida, perdida por ora na procura de uma felicidade momentânea, um instante, um ensejo em de novo ver teus olhos se abrirem, cálices do brilho da minha alma, mas o dia continuava…

(Continua…)

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