Recolho-me no exíguo camarim do meu âmago, caracterizo-me de mim, revejo-me no espelho do tempo, e deixo-me ser aquilo que sou.
Desenlaço das mãos, a inocência, que escondo, quando me defendo das falsas luzes da ribalta, acendo a ternura do meu olhar, e experimento a liberdade de rir, chorar e gritar sem guião.
Protegido, na cumplicidade da escuridão, solto o pesado ónus da minha existência, desato as amarras que me confinam estes movimentos corporais, inverto a história, e solto-me da realidade artificial que me inventaram.
Descubro então, a espontaneidade do meu sorriso, quando saio airosamente pela porta principal dos meus sonhos e vou ao teu encontro...
No pulsar desse encontro dos teus olhos nos meus, o tempo parou, o espaço apagou-se, o horizonte desceu sobre nós e trancou as portas ao mundo dos outros.
Naquele instante que se fez eterno, a leveza do brilho cúmplice das almas, uniu-se para lá dos sentidos, viajou para o nosso mundo de magias, na cauda de um cometa e fugiu dali.
Nos corpos expectantes, os sentidos afloram, o carinho surge na pureza de um respirar mais profundo, a ternura entrega-se ao abandono do sonho e voam carícias suaves, das mãos sedentas que não se tocam.
Apenas com um olhar, as essências mesclam-se, os olhos invadem-se, encerram-se um no outro, prendem-se ao desejo, e muito para além das paredes da realidade que nos rodeia, o nosso Amor acontece, entre o teu pestanejar e o meu.
Era manhã... o dia despontava por entre os panos alaranjarados que se faziam de cortinas... fugindo agora da penumbra as pestanas abriam-se, uma e outra vez, como se estivessem a descobrir um novo mundo agora no horizonte... Teria sido um sonho? O despertar esquizofrénico do rádio relembrou-me que a realidade era aquela e a noite teria sido apenas um paraíso num instante...
(Continua...)
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