sexta-feira, janeiro 18, 2008

XIII - EMBARAÇO

- Perdoa-me! – exclamei visivelmente incomodado e sem saber muito bem o que fazer. Virei costas e mantive-me ali porque uma explicação deveria ser dada a Melinda – Perdoa-me mais uma vez, deveria ter batido e pedido permissão para entrar. – O silêncio que ali se fazia cortava-me a alma tão fina era a faca que se fazia presente na minha mente, a qual certamente usaria para me apunhalar por tal intrusão.

- Ricardo, podes te virar. Já estou composta! – disse-me Melinda no seu tom de voz calmo mas visivelmente trémulo pelo choque de tal intrusão suicida. Ainda incrédulo com o meu acto baixei-me e voltei a segurar o fruto do meu desvario e como pedido voltei-me de novo. Segurava já um casaco militar que iria vestir sobre uma camisa branca que havia já vestido, calças e sapatos, nem eu me vestia tão rápido quanto ela.

- Gostaria apenas que me ajudasses a descobrir quem poderá ter mexido na minha mala e lá colocado esta carta?!! – perguntei-lhe com o olhar semi-fechado qual pecador diante do seu pecado e segurando a carta por entre os dedos da minha mão direita.

- Dirige-te ao Posto de Informações e questiona quem fez o transporte de toda a nossa logística desde o aeroporto até aqui e certamente terás a tua resposta.

O tom impregnado naquelas palavras deixaram-me curioso porque evidenciavam uma subtil raiva mas no seu contraste um sorriso latente.

- Foi apenas para isso que aqui vieste e entraste desse modo nos meus aposentos? - esta era a questão que queria evitar a todo o custo. Era agora que certamente me iria levar a Conselho Militar e expulsavam-me daquela missão.

- Melinda, a minha reacção a esta carta não justifica a intrusão mas acredita que não pretendia que isto tivesse acontecido e peço-te que me perdoes.

- Jantas comigo, não na messe dos oficiais mas fora daqui. Falaram-me de um típico restaurante ainda a funcionar fora dos limites da cidade. Talvez assim esqueça este episódio.

Honestamente não sabia o que responder. O embaraço era tão evidenciado que inclusive havia já esquecido o motivo que me levara a cometer tal infracção. Acedi com a cabeça num acto pecaminosamente redentor. Voltei costas e dirigi-me para a saída – Encontramo-nos no ponto de reunião militar pelas vinte horas? – perguntou-me estava eu já com a mão na porta para sair.

- Sim, perfeito. Vinte horas para mim é perfeito. – e atirando estas palavras por cima do meu ombro saí apressadamente. A brisa que me afagava o rosto era um refresco para a alma. Sentia um embaraço de pernas, um breve tremor de artérias, uma confusão na boca, uma batalha de veias. Continuei a caminhar em direcção aos meus aposentos. Decidi esclarecer as palavras que ali tinha escritas na palma da mão numa altura em que tudo o que saísse do pensamento fosse racional.

(Continua...)

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