segunda-feira, janeiro 14, 2008

XI - A VIAGEM

A tarde fazia-se já longa. Sabia já por entre conversas com Melinda que fazia juz ao significado grego do seu nome “Mulher cortês e gentil”, que estaríamos de saída para a Jugoslávia numa missão de paz de 30 dias. Julgava-me preparado para tudo ou pensava eu que estaria, mas distintamente o ressoar do destino que me esperava por entre a minha pele trouxe-me arrepios e interrogações com medo da resposta. Algo de bom me trazia aquele mal estar perene em todo o meu corpo, não iria necessitar de cafeína para me manter acordado nas longas horas de viagem até Saraievo ou Sarajevo como lhe quisermos chamar.

Todos já ouvimos falar das praias da costa adriática da Jugoslávia, do destemido General Tito da Jugoslávia, dos comunista não-alinhados, da guerra na Bósnia lá para aquelas bandas distantes onde a Europa se perde para o Leste e daquele sérvio que resolveu assassinar o arquiduque austro-húngaro em Sarajevo causando muitos problemas à Europa dos impérios ou ainda dos ambientes apocalípticos kusturikianos, mas, ainda hoje, pouco sabemos desta Europa tão díspar. Aquela zona despedaçada, a da ex-Jugoslávia é um autêntico mosaico amalgamado de culturas fabulosas. Mesmo a Grécia que nos legou parte do que hoje somos, é uma tão grande desconhecida. Quando se fala naquele oriente, pensa-se invariavelmente — quer com o devido conhecimento, quer sem ele — num caos, numa zona ignota, ligeiramente oriental, a Europa de Leste, a remota Europa eslava.

Já no avião e acomodados juntamente com a carga operacional da Unidade BTS-4 assim designada, via-me por entre um emaranhado de rostos envoltos numa textura de tristeza e saudade dos que haviam já deixado em terra. Não duvido da capacidade destes nobres soldados que se aventuram a uma desconhecida mira de uma qualquer arma de fogo.

Melinda continuava a acompanhar-me durante a viagem. Havia já notado nela o desejo de se encontrar presente para mim, deixar-me conhecedor de todos os pormenores da missão e o que era pretendido de mim. Não era leigo algum na matéria e sabia que apesar do tom e pormenores com que se deleitava a entregar-mos, julgando talvez que nunca teria estado num terreno tão difícil como este, deixei-a continuar. O tom suave e alegre da sua voz aliviava-me o stress de voar. - “Quando aterrarmos teremos tempo para nos acomodar e socializarmos um pouco?” – interrompi eu o seu discurso contínuo e acenou-me com um sim misturado por entre um sorriso.

Foi então que decidi fechar os olhos e aproveitar as horas de viagem que se avizinhavam. Dirigi-me à mochila que me acompanhava com material ligeiro para me apoiar como almofado e reparei que estava a ser observado por Melinda. Ignorei, repousava agora num mundo diferente e tentava sonhar com mundos ainda por descobrir, o odor a ferrugem e a metais distintamente forneciam-me pistas das cores do cenário que iria trazer para o lado ocidental do mundo capturado pela lente da minha camera.

(Continua…)

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