Desce a madrugada e o sono não chega. Deitado mesmo com a roupa dou voltas pela cama e limito-me à ignorância da minha insónia tentando fixar na minha memória o momento em que conheci o brilho do teu olhar.
Meu corpo rende-se ao rendilhado da falésia da noite que me quer desperto. Sento-me na cama... lá fora oiço passos de nocturnos comerciantes que da noite fazem sua vida. Acendo um cigarro, a companhia dos solitários quando sentem o desespero da solidão a se aproximar. Pelo quarto vejo o fumo a transformar-se numa nuvem de cristal, brilhante pela luz do candeeiro da calçada. Fecho os olhos. Lembro-me do dia enublado em que a conheci, onde te inventei por entre as cores cinzentas de um dia que se fez em palete de arco-íris, onde te moldei nas mais belas formas e onde me deste um nome escolhido entre os teus vazios. Ainda guardo a tua foto, a primeira foto do teu rosto onde te revejo, contemplando em fugazes instantes o teu sorriso que te fez tão feliz, e recordo que em troca me deste vida com a tua magia que absorvi e ainda trago espalhada pela pele.
Recordo por entre um sorriso de menino traquina essa noite. O ténue brilho das estrelas indicava-me o caminho da janela até ti, no entanto sentia-se a chegar, de toque desprendido por entre o meu corpo nú, olvido o pudor e o desejo. O luar nos meus olhos alertavam-te para a razão desprendida de mim oferecendo-me ao querer que dita o desejo.
De nós choviam beijos molhados, mimos trocados e meiguices oferecidas, no ar espalhavam-se murmúrios que as tuas mãos procuravam na minha pele, lábios perdidos em delícias húmidas na aurora do teu prazer, pleno de luz e emoções. Momentos intensos, sem limites, deixados à mercê da rotação livre dos corpos, carícias que se faziam secretas e magias inventadas, o gemido profundo sussurrado ao ouvido, os dedos entrincheirados nas minhas costas por cada prolongar de um movimento cavado na paixão.
(Continua...)
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