Deito-me com frio, arrepiado, aninhado, acordo completamente transpirado, desvairado, por vezes cansado…
Pelo meio, sonhos delirantes, hipnóticos, pensamentos obscenos, pecaminosos, quase dolorosos, a minha temperatura sobe à medida que a mente se vai soltando… e como…
Primeiro afasto o edredão, depois o cobertor e quando já só está o lençol em cima, aí começo a soltar-me, não abro os olhos ou a magia termina, mas naquela escuridão bem iluminada que é o momento da rendição, sinto-me a despir-te a pele que tiveste durante todo o dia, sinto-me a voltar as raízes, quase a transfigurar-me, a temperatura a subir, os dedos a encarquilhar, os dentes a cerrarem… e mais uma volta na cama, já fervilhando tiro-te a camisola que só me aprisiona e condiciona o livre acesso ao que gosto em ti, sim gosto de sentir e apertar, lamber…
Gosto de acordar ainda dormente, ainda cansado e com um fantástico sorriso na alma, gosto de ver os lençóis meio arrancados da cama, por vezes a almofada no chão, o cobertor desenfiado, o pijama espalhado e ainda sentir algumas gotas de suor a caírem pelo rosto, aquela comichão que as gotas provocam, adoro essa sensação… gosto de sentir a nuca húmida, aliás de humidades nunca me fico pela nuca, e quando voltam os arrepios, puxo rapidamente o lençol e o cobertor para mim, volto a aninhar-me, vou lentamente descendo à realidade, aninho a cabeça na almofada e todos aqueles momentos ficam guardadinhos num maravilhoso recanto da alma, onde por breves momentos gosto de passar naquelas noites calmas que são autênticas loucuras.