quarta-feira, fevereiro 20, 2008

XVII - CAÇADOR DE SÓIS

Aqui chegou o silêncio. De um fabuloso dia mágico descolou-se uma misteriosa noite, olhava para um céus polvilhado de estrelas, uma a uma levando-me para outra dimensão. Atrever-me-ia a espreitar? Deveria ousar em conhecer esse mundo que se oferecera ainda a pouco e cortar a fita vermelha e ser convidado de honra? Sabia-me certo por um pouco mais de magia.

É certo que procuro o aconchego nas lembranças, abandonado e inquieto aninho-me no colo do meu tempo e sei que me embalaria numa dança ausente onde só os olhos fechados conhecem os passos. Já deixei de ser criança e o querer quente de um beijo desperta uma poção de prazer que guardo sob a minha pele.

Enquanto isso o percursso de regresso fazia-se rapidamente. Melinda no seu silêncio guardava certamente para si aquele encanto de um beijo trocado, tatuado a tez de saudade. O sorriso que escuto trazido pela brisa vinha da minha janela, é a resposta que me seduz sabendo que também eu ouvia a mesma musica que nos havia embalado.

Chegamos. O carro pára. Nenhum dos dois se mexeu. Como que estátuas perdidas numa praça de uma qualquer cidade, apenas se ouvia a respiração às cavalitas, um convite pleno à estrada da ternura que nossos olhos semearam. Saí prontamente do carro, não podia ceder aos que os meus desejos me pediam. Aninhei-me junto a porta apertado por um labirinto sem respostas ou caminhos descobertos que me dessem uma escolha fácil. Lentamente oiço o germinar de passos cristalinos no meu alcance, um leve toque no meu rosto, aqueles dedos, o leve afago da lua no rosto -“Acompanhas-me ao quarto?”- aquelas palavras, qual tridente, arma branca de Neptuno que me leva por oceanos por descobrir.

Soltei as amarras e deixei a nau navegar ao sabor da brisa daquela noite, encontramo-nos de novo num olhar junto a porta do seu quarto, a travessia havia se feito cega e muda. Abriu-se a porta e as mãos tocaram-se num claro convite por campos de girassóis descobertos a dois. Entramos, o quarto desprovido de luz fazia-se apenas descoberto pelos raios lunares que penetravam pelas frinchas daquela que era agora a nossa janela. Os seus olhos brilhavam como se um encantamento houvesse sido lançado, a aproximação cúmplice, os lábios quentes e molhados que se deixam reencontrar, as mãos que percorrem o caminho da pele, um suave trilho traçado ao acaso entre montes e colinas de desejo que as vestes ricas e doces de paixão vão desabotoando aos poucos.

É encantamento sim, sagrada peregrinação impulsiva à cabana dos desejos que no centro do corpo expectante aguarda a chegada soberana do prazer maior. Inspirei, no ar sente-se já o aroma raro e mágico de incenso que dos nossos poros se solta e mistura em núvens de carinho. Agradável e alucinante perfume de nós que a nós retorna e nos vicia neste sonho de desejo. Este alucinado sentimento que não se vê, sente-se e oferece-se em cada momento atenuando e dourando a saudade noutros dias menos festivos e longinquos. O momento que não pára, singela esta a forma deste instante que tudo é e em tudo se transforma, por tão simples o ser. A mirra traça e enlaça os braços que se tomam, nas mãos, marcas doces que ficam nos trilhos traçados e o arrepio provocado na doçura do peito que se afirma ansioso.

As bocas desorientadas, perdem-se numa ânsia das línguas húmidas e inquietas, mãos enlouquecidas e trementes servem agora de guia dos corpos sedentos, que se deslizam, tacteiam na avidez do desejo de se terem, o sorriso cúmplice preenchido de luxúria, contemplamos nos olhos o campo de girassóis calados pelos lábios que se tocam e trocam sussurros de quereres e sentires. Completamente perdidos na essência deste momento, carrego-lhe o corpo até junto do meu e como um príncipe encantado montado nos seus joelhos, invado carinhosamente o íntimo, numa conquista mútua de sensações plenas que nos fazem estremecer o âmago e disparar o pulsar alucinado da paixão. O murmúrio de um delírio pungente que lateja por toda a nossa pele, a mente desassossega-se a cada instante que se faz com o movimento do corpo que lhe invade de novo, lentamente, conhecendo-lhe o olhar enquanto me afundo para lá da linha do horizonte. De olhos vendados com o ritmo do desejo que aumenta a cada segundo, dou asas as mãos que lhe procuram os seios sedentos pelo toque, os gemidos profundo são como mapa nesta estrada que me guia pelo prazer partilhado a dois... rapto-a da realidade e estático cedo ao sabor de um beijo profundo, calor da alma que se funde nos nossos lábios –“Quero tudo!”- diz-me ela por entre olhos semi-cerrados e as mãos que cravam no meu dorso. O recomeço alucinado, o enlaçe das pernas nas minhas como raízes de um momento que se faz eterno, a transpiração ofegante dos corpos que gritam por sensações escondidas, reprimidas, sinto o fluir da seiva que brota de nós e se dilui por entre um gemido longo incontido da alma.

O silêncio sacia-se agora das loucuras mais secretas, oferecendo a beleza das cores únicas dos corpos molhados e mistura-se em tons e cheiros de Amor. Beijo o seios com a palma das mãos e afundo o olhar na essência do brilho que brota por entre as pestanas humedecidas nos nossos sentidos.

(Continua...)

1 comentário:

Carlos Rudiney (Fotógrafo) disse...

Parabens o seu blog é muito criativo e os textos muito agradaveis. fico feliz em saber que existem poetas como voce. as fotos tambem sao bem oportunas.
quando puder de uma passada no meu blog. ele é bem simples nao tem o conteudo que tem o seu, simplesmente é um olhar de fotografo.
Estou no Brasil, Brasilia- Distrito Federal
www.carlosrudiney.com.br