segunda-feira, abril 20, 2009

UMA ESPÉCIE DE NADA, ONDE SE ENCONTRA TUDO…

espera

Voltamos a nos encontrar, aqui e agora, um novo mundo, o mesmo mundo onde o espaço se cruza com o tempo e este vagueia-me por entre os dedos sem dó, sem esperas, para aqui, de novo, me olhares.

As saudades serpenteiam-me os olhos, fazem-me crescer água na boca pelo sabor quente e único das pautas que tão bem improvisas.

Aguardava-te… sabia que virias, sorrateira, silenciosa como a noite e pedes-me que te conte uma história, mas não são contos de fadas para sonhar e abrir portas à imaginação, que vais ouvir. Andaram fugidas essas palavras de colorir e de encantar, adormecidas, mas perguntas-me sobre a história. Não te quero falar das ondas, da maresia, das pedras redondas à beira rio que enfeitam as calçadas, das estações que harmoniosamente se sucedem ou mesmo do pôr-do-sol que embala o sono adiado dos turistas de pés descalços.

Querias ouvir uma história dessas era?

Querias que te descrevesse a cor da estrada, do alcatrão, o cheiro do pão acabado de cozer ainda a fumegar sobre os tabuleiros reluzentes. Queres vaguear de mão dada comigo no monte, na albufeira, por entre as ruas da cidade, na foz e descobrir essas maravilhas? Mas não te irei contar nada disso, sim, quero antes improvisar uma história real, com amores, encontros e desencontros, noites em claro por razão alguma e apenas um odor que corta devagarinho e prazerosamente. Prefiro ver os teus olhos revirarem com a surpresa do início do dia, dos nossos dias de carne e osso, rir, flutuar em pensamento e abraçar nobremente as nossas causas. Mas conto-te o que os dias me trazem, o gosto de te ouvir quando falas ao meu ouvido do outro lado da linha, quando um sussurro chega devagarinho, com a tua respiração rente ao meu cabelo e o ruído do metro se intromete na calçada dos nossos passos, quando a meio da noite, relembro todas as palavras e os olhares.

É então, como ao pousar a cabeça numa descoberta pela almofada, adormeço por entre as recordações dessa história real, das oscilações da tua voz, das quebras, das paragens, dos sorrisos que os teus lábios desenham aqui e além, do brilho dos olhos, da luz e das sombras nos contornos do teu rosto, quando as frases vivas revigoram e os sentimentos enevoados que espreitam. Gosto de saber que me falas sem ocultar as paredes rachadas da tua alma, quando me dizes bom dia, gosto de ti e dorme com a certeza de que uma certa presença invisível repousa ao teu lado, porque assim me sinto tão, mas tão perto do verdadeiro tu que olhos poucos vêem. Tão incrivelmente perto de ti.

Conto-te a história real das conversas nunca incomodamente sem assunto, mesmo a que surgem acabam por o conquistar, quando em silêncio se conversa com a mesma linguagem, embora renovemos os modos de expressão. Saberão os enamorados separados pela pipocas ou pela mesa do café, que a respiração serenada pela companhia conta um mundo de histórias? E que o livro da nossa memória é página única dos seus capítulos? Duvido…

Afinal acabei por te contar várias histórias, únicas, verdadeiras, pois cada pedacinho teu, são narrações de linhas brancas e amarelas, sons que se colam à cara fria e nos envolvem com o cachecol do teu olhar.

Não deixes de falar, não cales o teu espírito.

Faz-te ser quem és.

E a mim… nem sei… Perdi-me em pensamentos enquanto te escutava.

1 comentário:

Andreia Batista disse...

Como já te disse... Adoro "ler-te".

Vou passar cá mais frequentemente a ver se me surpreendes mais vezes.

Continua... :D
:)*