terça-feira, novembro 28, 2006

Os elefantes não voam...

- Disseram-me que sabias voar...
- Soube, por instantes, mas as asas sempre foram muito frágeis e acabaram por quebrar. Não resistiram ao vento forte. Não podes voar com asas de promessa emprestadas durante muito tempo, acabam por rasgar-se, e tu acabas por cair quando o teu sorriso já tinha forma e rosto.
- Mas...
- Não há mas, nem depois. É levantar do tombo sem sacudir o pó das feridas, cerrar os dentes, tomar ainda o gosto a sangue que se têm na boca para que nunca nos possamos esquecer do sabor amargo do momento.
- Então e...
- Deixa de haver espaço para lamentações. Olhas para cima da tua cabeça e duvidas que tenhas conseguido voar, mesmo que nas costas ainda tenhas presas as asas e as sintas a doer, rasgadas pelo vento e partidas pela queda. Voltas a sentir a sensação estranha e incómoda de estar em contacto com o chão, e tens medo de voltar a andar. Por momentos isso parece-te estranho e confuso.
- Mas se...
- Os "se" são como os as traças. Vão comendo aos poucos e poucos. Deixam-te o fato cheio de buracos e quando dás por ti estás nua perante todos, e por mais que tentes esconder a tua vergonha por te mostrares inteira, não és capaz, e andas com dificuldade até ao primeiro esconderijo que encontrares dentro de ti.
- Esperavas...
- Talvez. Confesso-te que sim, que acreditei ser possível continuar lá por cima a pairar e a deixar-me levar pelas correntes do vento quente, talvez tornar-me uma ave migratória e só voltar na primavera, mas não aconteceu assim.
- E...
- E agora? Arrancar o resto das asas pela raiz e deixar que as feridas fechem sem deixar uma cicatriz muito feia. Esquecer-me por uns tempos, ou talvez de vez que andei lá por cima a olhar cá para baixo.
- Se te pedisse ensinavas-me a voar?
- Preferia não o fazer. Sabes, não é por má vontade, mas deixei de acreditar em contos de fadas e histórias de encantar...

1 comentário:

Meuse disse...

Mas as vezes não sei que te dizer...
Talvez por medo de por ti não ser entendida...
Muitas palavras ficam no meu coração a doer...
E depois sinto-me tão perdida...
Talvez em meus poemas, meus sentimentos consiga exprimir...
E neles muitas coisas ficarás a saber...