quinta-feira, novembro 30, 2006
Monólogo
- Mas duvidas??? Como podes duvidar de algo que te provo todos os dias?
- Porque não mo dizes, não mo espelhas em palavras.
- Quem disse que as palavras são a maior prova de amor que existe?
- Eu só sei sentir em palavras, eu preciso de respirar palavras. Comer palavras.
- Eu nunca fui bom com as palavras e tu sabes isso… Eu não me embrenho nessa maldita poesia que te inunda e te afasta de mim para mundos que não são meus, que não conheço e que invejo… Não compreendes? Que esse mundo teu é um segredo, um pedaço escabroso de ti que eu não consigo conhecer por muito que me esforce?
- Mas eu abri-te a minha poesia…
- Eu abomino poesia! Tu sabias isso quando aceitaste ficar comigo. A escrita repele-me, não entendo o que encontras nessa maldita que não vês em mim… Eu amo-te! Eu sou real! Eu estou aqui e sou carnal e palpável. Não sou um dos teus personagens incompletos.
- Os meus personagens são partes de mim tal como eu sou parte deles. Lamento que não consigas entender isso…
- Tu pressionas-me a dizer-te coisas que eu não te sei dizer.
- Então como posso saber que as sentes?
- Não lês no meu olhar?!
- Não sei ler olhares. Não me peças para ler olhares. Os olhares enganam, deturpam. Eu vejo sempre verde nos olhos mais escuros.
- …
- Não ergas muros de silêncio à nossa volta! Eu lutei tanto para construir este equilíbrio precário que nos envolve, não o derrubes agora com essa facilidade!
- Equilíbrio??? Tu chamas a isto equilíbrio? Daqui a pouco vais dizer que eu não sou ciumento e que isso te faz sentir desconfortável. Fico a pensar que por muito que me esforce nunca te chega.
- Mas é estranho! Eu queria que ao menos por vezes olhasses para mim com ar de quem me quer devorar com medo de me perder. Toda a gente que ama sente medo de perder alguma vez na vida.
- E isso é alguma regra universal?
- Não… Nunca disse que era.
- Esta conversa deixa-me esgotado. Estamos sempre a falar do mesmo.
- Estamos porque nunca se resolve!
- Porque eu não compreendo a tua necessidade de palavras! Eu dou-te afecto ou não…?
- Sim. Mas eu preciso de mais. Mais carinho. Mais atenção. Eu tenho medo!
- De quê? De ser feliz?
- Sim… De ser feliz. Eu não nasci para ser feliz.
- Não digas disparates…
- Não são disparates, são os meus sentimentos! Não me quero agarrar a alguém que me pode abandonar a qualquer momento!
- Eu gostava de ser como os teus amigos poetas mas não sou. Queria dizer-te aquelas palavras românticas mas não consigo.
- Queria apenas que dissesses que sentes saudades minhas. É assim tão difícil?
- Para mim é…
- Então o que fazemos juntos?
- Aprendemos a amar.
- Sem palavras?
- Sem palavras.
quarta-feira, novembro 29, 2006
Apetece-me chorar de tanta saudade
Eventualmente toda a minha escrita nasce e morre em ti. Corre para ti como um rio para o mar.
O sono abandonou-me. O teu corpo não está deitado na cama com um sorriso rasgado e um convite maroto para me deitar ao teu lado.
Na verdade o teu corpo não está em divisão nenhuma da casa. Está a quilómetros de distância.
E no entanto, tenho o teu perfume a cobrir-me a pele.
Queria poder dizer milhares de vezes todas as palavras que pudessem expressar o que sinto. Nunca as digo.
Quando finalmente reúno coragem para as pronunciar são horas de partires e levares contigo pedaços de mim e da minha escrita.
Fico sempre à espera. À espera que a ponta dos meus dedos falem mais alto que eu. Que os meus braços te enlacem com a força suficiente para tu entenderes que só tu fazes sentido para mim. Que só tu és o meu sentido.
Porquê, meu amor, não te embalo eu na poesia das minhas próprias palavras?
Porque só sei escrever num grito mudo de amor? Secretamente rezo para que me leias, me entendas, me abraces. Me invadas.
Vivo com o medo de te perder preso na garganta, a transpirar-me pelos poros.
O abandono vive-nos nos olhos e não nos lábios. É por isso que te dou os lábios numa fome devoradora e afasto o olhar para sussurrar palavras de amor.
Sou cobarde, amor. Porque tenho medo da intensidade do laço que me une a ti.
E ainda assim, perco-me em ti sempre que te tenho perto. Sempre que penso que me devia manter mais longe, mais fora do alcance da dor, tu apertas-me contra o teu peito e o teu perfume faz-me esquecer a prudência.
O amor não é prudente, penso eu.
O amor é uma faca cravada no coração. Que dói mas nos alimenta.
Tenho as tuas palavras a sangrarem-me dos olhos: "não quero ir amor.. sem ti não consigo dormir".
Eu também não queria ir para lugar nenhum onde tu não estivesses. Mas estou aqui... longe. E no entanto, dolorosamente perto.
terça-feira, novembro 28, 2006
Os elefantes não voam...
- Soube, por instantes, mas as asas sempre foram muito frágeis e acabaram por quebrar. Não resistiram ao vento forte. Não podes voar com asas de promessa emprestadas durante muito tempo, acabam por rasgar-se, e tu acabas por cair quando o teu sorriso já tinha forma e rosto.
- Mas...
- Não há mas, nem depois. É levantar do tombo sem sacudir o pó das feridas, cerrar os dentes, tomar ainda o gosto a sangue que se têm na boca para que nunca nos possamos esquecer do sabor amargo do momento.
- Então e...
- Deixa de haver espaço para lamentações. Olhas para cima da tua cabeça e duvidas que tenhas conseguido voar, mesmo que nas costas ainda tenhas presas as asas e as sintas a doer, rasgadas pelo vento e partidas pela queda. Voltas a sentir a sensação estranha e incómoda de estar em contacto com o chão, e tens medo de voltar a andar. Por momentos isso parece-te estranho e confuso.
- Mas se...
- Os "se" são como os as traças. Vão comendo aos poucos e poucos. Deixam-te o fato cheio de buracos e quando dás por ti estás nua perante todos, e por mais que tentes esconder a tua vergonha por te mostrares inteira, não és capaz, e andas com dificuldade até ao primeiro esconderijo que encontrares dentro de ti.
- Esperavas...
- Talvez. Confesso-te que sim, que acreditei ser possível continuar lá por cima a pairar e a deixar-me levar pelas correntes do vento quente, talvez tornar-me uma ave migratória e só voltar na primavera, mas não aconteceu assim.
- E...
- E agora? Arrancar o resto das asas pela raiz e deixar que as feridas fechem sem deixar uma cicatriz muito feia. Esquecer-me por uns tempos, ou talvez de vez que andei lá por cima a olhar cá para baixo.
- Se te pedisse ensinavas-me a voar?
- Preferia não o fazer. Sabes, não é por má vontade, mas deixei de acreditar em contos de fadas e histórias de encantar...
segunda-feira, novembro 27, 2006
MEDO
Como se o organismo se recusasse a ser feliz, a fazer as coisas bem...
Sabes que deixar de ser "eu", para ser nós é um processo lento e nem sempre bem sucedido.
A mente é dona de estranhos buracos e armadilhas.
Penso que também sabes isso.
Por isso torna-se inútil dizer-te palavras que conheces e mesmo assim recusas entender.
Dói-me lembrar-te ajoelhada a meus pés a implorar perdão por um pecado que nem sabes que cometes. Dói-me porque queres apagar as minhas lágrimas com as tuas.
Era apenas uma palavra... uma palavra a negar a estranha necessidade de ser teu sem o ser.
Sabes que quis fugir? Fugir de ti, fugir do amor que te tenho e me prende as asas... Fugir de ti e consumir-me nesta infelicidade mórbida.
Ainda assim, agarraste-me com força, as lágrimas a escorrerem-te pela face, a desfazerem-te o coração.
Sabes que sou cobarde? Sim... profundamente cobarde.
Estupidamente cobarde e no entanto amas-me assim. Ou aprendeste a amar-me.
Qual das duas foi, interrogo-me... Mas por muito que o faça nunca vou descobrir.
Porque as tuas mãos se selaram em volta das minhas, os teus braços esmagaram a minha cobardia, o meu medo de amar.
Ser feliz nem sempre é fácil, sabias? Ser feliz às vezes também dói. Porque ter-te a meu lado é toda a minha felicidade, a minha única felicidade e no entanto por vezes parece-me tão distante, tão hercúleo.
Mesmo quando abafas as minhas lágrimas nas tuas.
Já te disse que ficas linda quando choras? Na infelicidade também existe poesia. Nos teus olhos perfeitos de lágrimas também existe amor. E por isso é belo.
É nas tuas lágrimas que vejo o meu coração. Porque ele está dentro de ti. Numa profundidade que só as lágrimas alcançam.
Sim... é em ti que vivo e no entanto quis fugir de ti, trazendo a morte no regaço.
Porquê, perguntas-me tu, e deitas-te em mim, e sufocas-me de beijos e amor.
Porque amar-te é a única coisa que não sei fazer. Porque me surpreendo a cada dia com este amor. Porque ele me ultrapassa e me enche de maresia.
E por isso amor, tenho medo. Medo da grandiosidade. Medo de precisar de ti mais do que precisas de mim. Medo de acordar de um sonho e morrer a recordar os teus lábios...
Medo do medo de amar.
E ainda assim, enlaças-me em ti.
Quero-te, dizes tu. E eu sei, estranhamente, que é verdade. Sei... e assim silencio o medo, apago as lágrimas e adormeço em ti.
sexta-feira, novembro 24, 2006
Acordei a sorrir...
Olha-me nos olhos e diz-me o que vês!!!
Não quero me esconder mais neste nevoeiro que tarda em dissipar.
Quero acordar do sono imenso e bocejar para o passado. Mesmo rodeado por 1000 pessoas tardo em deixar-me sentir totalmente só.
Respiro fundo e não consigo chegar ao fim. O nevoeiro tomou-me completamente os pulmões.
Este não é o meu sonho.
Outro dia de Inverno acabado de passar junta-se às páginas acabadas de lacrar e eu... continuo só.
Quero regressar a casa, aquele espaço que nos abraça e protege da intempérie.
Quero um jantar à luz de velas mesmo que acompanhado apenas das sombras quentes que o fogo atiça nas paredes de pedra.
Quero quebrar com os temas proibidos e plantar nesse asfalto de medo uma flôr... de esperança.
Sinto falta do calor de um corpo alheio ao meu. Do toque suave dos cabelos que não os meus.
Quero escrever-te uma carta e colocar-la no correio, mesmo que o endereço seja do fim do mundo.
Por outro lado adoro a minha solidão perfeita.
Ahhhhhhhh como é bom viver, mesmo quando inundado de emoções contraditórias.
quarta-feira, novembro 22, 2006
Palete de Cores
Mesmo quando sabemos já saber tudo, algo de inesperado acontece.
O café é derramado naquelas calças acabadas de comprar, chove no dia em que decidimos sair sem guarda-chuva, vamos as compras e ops, esqueci de levar dinheiro e o cartão de crédito, e por vezes... dizem-nos ao ouvido o quanto importante somos para alguém.
Mesmo quando queremos apenas escrever a preto numa folha branca, o melhor mesmo, é escrever a cores.
Já imaginaram as minutas de um advogado ou de um juiz escritas a crayons? As páginas do nosso livro favorito escritas a 1000 cores...
A magnitude das variáveis com que no dia-a-dia nos deparamos são infindáveis...
Por isso, quando menos esperamos... de um momento para o outro... somos a palete de cores de um pintor que incansávelmente se recusa a trinchar a sua tela branca.
sexta-feira, novembro 10, 2006
Manifesto ao Ódio
Meu desespero não é maior ao de qualquer outra pessoa, mas a cada dia que passa, mais me consciencializo dele, e ele me inunda. Meu “dom”, diferente de outros dons alheios, não pode ser contabilizado: ele serve apenas para me mostrar o quanto sou pequeno e incapaz. Não gosto da minha aparência, da minha voz, e principalmente do meu passado. Vivo apenas de sonhos, fantasias e adequações. Amo a todos, mas vivo preso a valores quase todo o tempo. Não sou capaz de dar a minha vida para salvar uma mosca mesmo sabendo qual a mais valiosa. Por outro lado, eu acabaria com a minha vida se EU quisesse. Mas a amo tanto! A mosca.
Agrido-me todo o tempo por não aceitar a minha condição neste mundo, e não estou falando fisicamente - apesar da cicatriz. Tenho sorte? Como posso personificar a diversão e a felicidade que me são impostas? Apenas copiar o modo de vida de pessoas que não sabem a diferença entre uma lágrima de tristeza e uma lágrima de decepção, e isso não me é suficiente. Deveria dizer basta! Mas não chegou a hora.
Pois bem: custo e benefício. De quem?
Sugeriram-me que eu usasse o que eu passei a chamar de “teoria do foda-se”. Simples: Parar de ser quem eu gostaria e passar a ser eu mesmo, e quem não gostar... Uso a teoria. Qual a importância disso? Qual o sofrimento que eu posso causar? E se der certo? E se alguém tiver a capacidade de me amar assim como eu sou? E se esse alguém for eu? Foda-se?
Perguntas, perguntas e perguntas. Sem respostas.
Pois bem. Apago neste momento todas as minhas verdades. Elas não me serviram para nada mesmo... Melhor ser louco, e mesmo preso sentir-me livre. Não tenho como voltar no passado para arrumar as coisas erradas que eu fiz, e não sei se consigo aceita-las, então deleto tudo. Fim.
Ah devaneios! Quisera eu que fosse tão fácil.
Porque falar de mim? Porque eu deveria ser assim tão especial? Não passo de um idiota que pensa que é esperto. Minha dor não é maior que a dor de ninguém. Sou apenas um louco que finge ser normal para não sofrer um pouquinho, pois tenho medo de sofrer... Pouquinho!
Minhas ex, tão amadas, se foram... E bastou isso para que eu descobrisse que não as amava, e que não as merecia. Não dou valor a coisas que outras pessoas agradecem aos céus. Minha religiosidade é nula. Cativo e saio magoado, e uso contra isso a arma mais covarde que eu tenho, a capacidade de usar: Meu dom.
Não cheguem perto. Não me chamem de amigo, de querido e muito menos de amor. Não pensem que sou especial porque se vocês acreditarem nisso, por um segundo que seja, serão feridos e irão sofrer. No fundo, de tanto amor, eu lhes odeio.
Me odeio a mim mesmo.
terça-feira, novembro 07, 2006
Perdi um Amigo
Perdido não num qualquer jogo de fortuna ou azar.
Perdi um amigo na roleta da vida, no jogo dos infortúnios, onde supostamente as apostas não deveriam nunca cessar.
Como é possível perder um amigo?
Supostamente um amigo é aquela pessoa que nos acompanha nos melhores momentos e que marca presença nos momentos menos bons da vida.
Mas descobri que um amigo também sente aquilo que sentimos e que por isso será sempre permeável a mentiras e enganos.
Descobri que um amigo, tal como nós, detesta a traição.
Descobri que também se enganam os amigos como forma de nos arremessarem a pedra mais pesada que se possa encontrar.
Também se enganam os amigos para se quebrarem os laços que os unem.
Mas supostamente o amigo deveria ser imune ao veneno da cobra matreira, mas acontece que tal como nós, um amigo também sente e estando magoado, perece e se perde.
Perdi um amigo e estou triste...
quarta-feira, novembro 01, 2006
No Trilho inCerto
Acredito que o Inferno fica na ponta do trilho incerto, e que o céu nos acompanha na viagem de ida.
A qualquer instante, no descarrilamento de nossas vidas, esquecemo-nos donde vimos e para onde vamos.
Resta-nos arrastar de novo aos trilhos certos, e devagar, ganhar lanço, e gritar com os pulmões cheios de raiva...
Não há curvas nos trilhos que pisamos.
São os descarrilamentos que nos fazem perder tempo e paciência.
Resta-nos assim pisar terreno incerto, areias movediças, e ao longo do tempo aprender os sinais de como as evitar.
Raios partam estes trilhos cujos parafusos e porcas teimam em desaparafusar.
Raios partam o céu e o inferno que comungam o mesmo trilho.